O Evangelho Judaizante: A Nova Aliança está Ultrapassada?
A
Confusão Evangélica Diante do Antigo Testamento.
A igreja evangélica brasileira é uma das mais dinâmicas e criativas do
mundo. Por
essa razão seu crescimento tem sido extraordinário. Todavia, uma igreja jovem e
efervescente tem dificuldades de doutrinar e discipular seus novos membros.
Essa é uma realidade na igreja brasileira. É notório que o uso do Antigo
Testamento na prática e na liturgia eclesiástica brasileira tem crescido de
maneira substancial. Principal no contexto do louvor e da adoração a ênfase
veterotestamentária é mais do que expressiva. E como percebeu Lutero, a
teologia de uma igreja está em seus hinos. Afinal, o que está acontecendo? Para
onde estamos indo?
Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que o Antigo Testamento representa um
fascínio para o povo brasileiro. É repleto de histórias concretas, circunscritas
na vida real do povo, no cotidiano de gente comum. É muito mais fácil
emocionar-se com uma narrativa como a de Jonas ou de Davi do que acompanhar o
argumento de Paulo em vários textos de Romanos. Além disso, o povo brasileiro
tem pouca história e raízes muito recentes.
O Antigo Testamento, com a rica história do povo de Israel, traz uma
espécie de identificação com o povo de nosso país. Talvez isso explique porque tantos
brasileiros evangélicos queiram ou procurem ser mais judeus.
Em terceiro lugar, devemos considerar a realidade de que a igreja
evangélica brasileira quase não tem símbolos ou expressão artística. A maioria dos símbolos
cristãos históricos (catedrais, cruzes, etc.) tem identificação católica na
realidade nacional. Assim, os evangélicos buscam símbolos para expressar sua
fé, e acabam geralmente escolhendo símbolos judaicos ou veterotestamentários
(menorá, estrela de Davi, e etc.). Este encontro brasileiro-judaico tem muitas
facetas positivas: Retomamos uma alegria comemorativa da fé, trazemos a verdade
espiritual para a realidade concreta, dificilmente teremos uma igreja
antissemita, enxergamos necessidades sociais e políticas pela força do Antigo
Testamento. Todavia, também estamos andando em terreno perigoso e delicado.
Algumas considerações são importantes para que a igreja brasileira não perca o
rumo por problemas de ordem hermenêutica. Aqui vão algumas sugestões:
1. Nem todo
texto bíblico do Antigo Testamento pode ser visto como normativo A
descrição da vida de um servo de Deus do Antigo Testamento não é padrão para
nós sempre. Quando
Abraão mente em Gênesis, a descrição do fato não o torna uma norma. A poligamia
de Salomão, a mentira das parteiras no Egito e o adultério de Davi não podem
servir de desculpas para os nossos pecados.
2. Não podemos
cantar todo e qualquer texto do Antigo Testamento É preciso observar
quem está falando no texto bíblico. Sem observarmos quem fala, tiraremos
conclusões enganosas. Isso é fundamental para se entender o livro de
Eclesiastes. No caso de Jó 1.9-10, por exemplo, temos registradas as palavras
de Satanás. Isto é fato até no caso do Novo Testamento (veja Jo 8.48).
3. Devemos ensinar que muito da teologia do
Antigo Testamento foi superada pelo Novo Testamento Jesus deixou
claro que estava trazendo uma mensagem complementar e superior em relação à
antiga aliança. Se
não entendermos isto, voltaremos ao legalismo farisaico tão questionado por
nosso Senhor. Textos como Números 15.32-36 revelam um exemplo daquilo que não
tem mais valor na prática da nova aliança. Todos os elementos cerimoniais da
lei não podem mais fazer parte da vida da igreja cristã, pois apontavam para a
realidade superior, que se cumpre em Cristo (Cl 2.16-18). Sábados, festas
judaicas, dias sagrados, sacrifícios e outros elementos cerimoniais não fazem
parte da prática cristã neo-testamentária.
4. Antes de
pregar ou cantar um texto do Antigo Testamento é preciso entendê-lo
Nem sempre é fácil entender um texto do Antigo Testamento.
Muitos textos precisam ser bem estudados, compreendidos em seu contexto e em
sua limitação circunstancial e teológica. Veja por exemplo o potencial
destruidor do mau uso de um texto como o Salmo 137.9 (Feliz aquele que pegar os
seus filhos e os despedaçar contra a rocha!). Se o intérprete não entender que
o texto fala da justiça retributiva divina dada aos babilônios imperialistas,
as crianças da igreja correrão sério perigo!
5. Devemos
ensinar que vingança e guerra não são valores cristãos Jesus ordenou
que devemos amar até mesmo aqueles que nos odeiam. A justiça imprecatória não
faz parte da teologia do Novo Testamento. Há vários salmos que dizem isso, mas
tal realidade compreende-se no contexto do Antigo Testamento e não pode ser
praticada na igreja cristã. Não podemos cantar “persegui os inimigos e os alcancei, persegui-os e os atravessei” (Sl
18.37.38), quando o Senhor Jesus ordena que devemos perdoar e amar os nossos
inimigos (Mt 5.44-45). Hoje já existe até gente “amaldiçoando outros em nome de
Jesus! Teremos o surgimento de uma “violência cristã”?
6. Enfatizemos a
verdade de que a adoração do Novo Testamento é superior O Novo
Testamento nos ensina que a adoração legítima independe de lugar, de monte, de
cidade e de outros elementos materiais (Jo 4). Jesus insiste em afirmar que
Deus procura quem “o adore em Espírito e
em verdade”. A tradição evangélica sempre louvou a Deus por seus atos e
atributos.
Atualmente estamos cada vez mais enfatizando “o monte santo”, “a cidade
sagrada”, “a casa de Deus”, “a sala do trono”. Nós somos o “templo de Deus”. Os
elementos materiais pouco importam na adoração genuína. É preciso retomar o
caminho correto.
7. Devemos
ensinar que ser judeu não torna ninguém melhor do que os outros
Alguns evangélicos entendem que “ser judeu” ou “judaizado” os torna de alguma
forma “espiritualmente melhor”. O rei Manassés, Anás e Caifás eram judeus! Já
há quem expulse demônios em hebraico! Em Cristo, judeus e gentios são iguais
perante Deus. Na verdade “não há judeu
nem grego” (Gl 3.28) na nova aliança.
A igreja cristã já pecou por seu antissemitismo do passado. Será que irá pecar agora
por tornar-se judaizante? Devemos amar judeus e gentios de igual modo. Além
disso, podemos e devemos ser cristãos brasileiros. Não precisamos nos tornar
judeus para ter um melhor “pedigree” espiritual
Carlos
Alves Ribeiro / site: Palavra da Verdade
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