Apesar do recuo da inadimplência para níveis históricos, o brasileiro
ainda tem pouco conhecimento sobre as suas finanças, independentemente
do estrato social.
Oito em cada dez entrevistados não sabem como controlar as despesas,
revela uma pesquisa nacional feita em dezembro com cerca de 650 pessoas
pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação
Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
A enquete mostra que apenas 18% dos entrevistados têm bom
conhecimento sobre as finanças pessoais. A economista do SPC Brasil,
Luiza Rodrigues, destaca que esse resultado praticamente se repete para
todos os estratos sociais. Em 84% dos domicílios com renda mensal de até
R$ 1.330, o chefe da família tem parcial ou nenhum conhecimento sobre
as finanças da casa. Essa fatia cai para 86% no caso das famílias com
rendimentos entre R$ 1.331 e R$ 3.140 e recua para 76% para aquelas com
receita acima de R$ 3.141. Mas ainda é um porcentual alto.
"O consumidor adulto se mostra muito pouco preparado em relação às
finanças pessoais", afirma Luiza. A economista ressalta que há uma
relação direta entre saldo negativo na conta corrente e o baixo
conhecimento financeiro. Quase 70% daqueles que têm baixo ou nenhum
conhecimento sobre as finanças pessoais termina o mês no vermelho ou no
zero a zero na sua conta corrente. Esse resultado recua para 29% para
aqueles que acompanham as suas receitas e despesas.
Descontrole
Um dado que chamou a atenção é que mais de um terço dos entrevistados
(36%) sabiam um pouco ou nada sabiam sobre as contas regulares que
deveriam pagar este mês, com resultados muito parecidos para as três
faixas de renda analisadas. No caso das despesas extras de início de
ano, mais da metade (57%) não sabia exatamente quanto deveria gastar a
mais. Há também falta de conhecimento do lado das receitas, com 40% dos
entrevistados declarando não ter informações exatas sobre a renda.
A principal dificuldade apontada pelos consumidores de todas as
classes sociais para controlar as finanças pessoais foi a disciplina
para registrar gastos e receitas com regularidade, com 39%. Mas fazer
contas é tido como um problema para 6% dos entrevistados. Esse resultado
dobra (12%) no caso do estrato com menor renda.
Fôlego
Além da falta de controle das despesas e receitas, outras informações
relevantes reveladas pela pesquisa são o ímpeto do consumidor para ir
às compras e a falta de fôlego financeiro: 38% dos entrevistados
informaram que às vezes, ou nunca, avaliam a sua situação financeira
antes de adquirir um bem.
A falta de reservas financeiras é nítida quando se avalia que mais da
metade (55%) dos entrevistados não conseguiriam se manter por mais de
três meses em situação de dificuldade. "Como o tempo de recolocação no
mercado de trabalho é de sete meses, esse resultado é preocupante, se
houver um tropeço no emprego", diz a economista.
A escassez de controle dos brasileiros sobre as suas finanças ocorre
num momento em que os índices de inadimplência registram baixas
históricas. Na avaliação de Luiza, esse cenário não é contraditório com a
falta de rigor nas finanças pessoais porque o principal fator, na sua
opinião, que levou ao recuo do calote foi a cautela do sistema
financeiro na aprovação de novos créditos.
Fonte: Estado de S. Paulo
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